sexta-feira, 30 de outubro de 2020

15 - DESASTRE AEREO - VIII -






Como era de se esperar, o piloto M.F. teve sua licença de voo cassada. Ora, se deixar faltar combustível em um carro que está trafegando numa rua ou rodovia já é uma enorme falha - inclusive passível de punição, de acordo com o CNT - imaginem os leitores esta ocorrência num avião!!!... É obrigação de todo piloto, principalmente os de aeronaves de pequeno porte, fazer o que se chama no jargão aeronáutico de " TESTE DE SÃO TOMÉ ". Consiste este teste em verificar não somente a qualidade do combustível, isto é, se é realmente o indicado para o equipamento,  mas, e principalmente, se a quantidade é suficiente para completar o voo até o destino constante o plano de voo e mais uma reserva para levar o avião até um aeroporto alternativo, no caso de não haver possibilidade de pouso no aeroporto de destino. O mais absurdo é que o Piper tinha autonomia para voar durante 6 horas!...
 Segundo informações que me deram, não podendo mais pilotar aviões, legalmente, o M.F. teria ido voar clandestinamente na Amazônia paraense ( Itaituba ), levando peças de máquinas, combustível, víveres e passageiros, para os garimpos. Transcorrido algum tempo nesta que, se confirmada, seria uma atividade ilegal,
pois perdera a licença de piloto, ao tentar levantar voo de uma pista precária do garimpo, com carga superior à suportável pelo avião, não teria conseguido altura suficiente para transpor as árvores da cabeceira da pista, indo chocar-se violentamente contra elas. Conforme informações, teria morrido juntamente com todos os eventuais e desditosos passageiros!

Continua na próxima postagem.......

Abraço a todos os meus amigos e visitantes e tenham todos um ótimo final de semana.

Clóvis de Guarajuba
ONG Ande  & Limpe

sexta-feira, 23 de outubro de 2020

14 - DESASTRE AÉREO - VII -





Há de se destacar que, ao retornar ao local do desastre, verifiquei que tivemos muita sorte em bater com a asa esquerda na cerca da fazenda  É que esta batida, não apenas provocou o " cavalo de pau", mas, e principalmente, inibiu a velocidade de inércia do avião, evitando com isto o choque com as laterais de um pontilhão existente naquele local a rodovia, o que certamente provocaria a sua explosão. Depois de conversar com os policiais que, por não haver vitimas, limitaram-se a isolar a área em torno da aeronave, preservando tudo intacto para aguardar os peritos da Aeronáutica, comuniquei a eles e aos pilotos que iria para Salvador no mesmo táxi que me trouxera de Amargosa. Os peritos da Aeronáutica já haviam sido alertados pelas autoridades locais. A torre de controle do aeroporto de Salvador, por sua vez, havia comunicado ao DAC ( Departamento de Aviação Civil ), que o CZN não havia cumprido o plano de voo  reportado quando da decolagem do aeroporto de Bom Jesus da Lapa e nem respondia aos  insistentes chamados dos controladores que haviam perdido contato. Minha família já havia também sido comunicada do desaparecimento da aeronave. Não havia celular à época e a agonia de meus familiares durou até minha passagem por Feira de Santana onde, finalmente parei para ligar para minha mulher, que chorou copiosamente - creio que de alivio - ao telefone.
Tudo o que aconteceu daí pra frente, à exceção da venda do CZN
- praticamente como sucata - para uma firma de Belo Horizonte, me foi informado pelo processo aberto pra apurar as causas do acidente. Pasmem os senhores leitores: " PANE SECA " foi a conclusão das investigações!!!
 Há muitas explicações para dar a vocês que leem este relato resumido. Elas serão dadas no livro que estou escrevendo e que será publicado, penso eu, no ano de 2021.

Continua na próxima postagem......

Um ótimo final de semana a todos. Grande
Abraço,

Clóvis de Guarajuba
ONG Ande & Limpe

sexta-feira, 16 de outubro de 2020

13 - DESASTRE AÉREO - VI -




Ao me afastar, correndo, da aeronave com medo de uma explosão, não havia sequer notado os hematomas e nem sentido as dores provenientes dos quadris e da parte baixa do abdome,  consequência da pressão brutal exercida pelo cinto de segurança que cumprira com eficiência a sua finalidade... Já suficientemente distante e com o restabelecimento pleno da razão, parei, voltei-me, pra verificar se os outros dois já haviam saído e só então voltei para ver se havia alguém ferido. Apenas o M. sofrera um pequeno corte na mão direita, proveniente dos cacos de uma garrafa de água mineral que sempre me acompanha e que se quebrara por ocasião do choque. Constatado o estado de normalidade dos dois, parei o primeiro veículo a passar pelo local
( cerca de 15/20 minutos depois ), e fui para o hospital de Amargosa, cidade para onde se dirigia o motorista. A esta altura,  a dor sentida na região do baixo ventre, me levou a ter sérias suspeitas de que poderia ter sido vitima de graves danos internos, principalmente relacionados à bexiga. Prontamente atendido pelo médico de plantão, fui orientado a me dirigir ao banheiro para urinar, verificando se na urina havia algum vestígio de sangue. Pra meu alivio, nada notei de anormal e o médico, após exame geral, constatou apenas hematomas de grande intensidade nas partes laterais dos quadris, me dizendo que nada havia de mais relevante e me tranquilizando quanto ao meu estado geral: o próprio organismo se encarregaria de dissolver os hematomas, com o
tempo, concluiu. Retornei, então, agora de táxi, para o local do 
" pouso ", já encontrando, na minha chegada, uma viatura da Polícia Civil com dois policiais que foram alertados por alguém que vira o avião em voo silencioso e rasante, deduzindo haver algo de anormal.

Continua na próxima postagem.....

Bom final de semana a todos.
Abraço,

Clóvis de Guarajuba
ONG Ande & Limpe

sexta-feira, 9 de outubro de 2020

12 - DESASTRE AÉREO - V -


Asa esquerda quebrada em consequência do choque com a cerca



Assim, tomamos a decisão de pousar na rodovia. Tudo teria saído mais ou menos bem, não fosse o fato - só descoberto ao nos aproximarmos do solo - de que as laterais da estrada, naquele local, em vez de acostamento, tinham uma barreira de cada lado, bem mais altas do que as asas do Piper!!! A essa altura, nada mais poderia ser feito, além da tentativa do pouso. Para completar os agravantes, na ânsia de nos sairmos bem, os pilotos haviam esquecido de baixar o trem de pouso. Tal procedimento somente foi executado e manualmente, depois que luzes vermelhas piscantes e " bips" insistentes provenientes do painel, os alertou para esta falha. No último momento, o procedimento de baixar o trem de pouso foi finalizado. De imediato a aeronave tocou o solo e o conjunto da roda dianteira do trem de pouso se partiu com o choque !


O avião pairou no ar sobre a
lateral alta da rodovia, bateu
com a ponta da asa esquerda
em uns morões da cerca da
fazenda, rodopiou no ar e
caiu estreptosamente no leito da BA 046, com a frente virada para o lado de onde viera ( deu o famoso 
" cavalo de pau " ).
Imediatamente, o instinto de
conservação - que, ao contrário do que propagam por aí, tipo " minha vida toda passou em um átimo pela minha mente ", puro papo furado - que comanda, absoluto, todas as ações de alguém que se encontre em tal situação, fez com que eu, literalmente, passasse por cima do co-piloto ( que, aturdido, continuava sentado ), abrisse a porta e, saindo em desabalada carreira, me afastasse o máximo possível do avião, a meu juízo, prestes a explodir!...


Continua na próxima postagem.........

Excelente final de semana a todos.
Abraço,

Clóvis de Guarajuba
ONG Ande & Limpe

sexta-feira, 2 de outubro de 2020

11 - DESASTRE AÉREO. - IV -

                           


...De repente, houve uma falha dos motores, imediatamente corrigida pelo co-piloto, com o simples manejar de uma alavanca. Depois vim saber tratar-se da alavanca seletora do tanque de combustível. É que pode ser selecionado o tanque de onde o comandante quer que venha o combustível para os motores; deste modo, é possível ajudar a manter o equilíbrio da aeronave, manipulando a distribuição do peso. Perguntei se não seria melhor retornarmos à Bom Jesus da Lapa. Prontamente os dois me disseram para ficar tranquilo, pois se tratava simplesmente de uma questão de " seleção do tanque "... Voltei, então, a estudar os documentos relativos à " medição " até que, ao sobrevoarmos a rodovia BR-116, os motores simplesmente pararam!!!
Apavorados pelo " silêncio ensurdecedor " dos motores, o MF.. e o suposto comandante de bi-motores, sem saber direito o que fazer, precisaram ser alertados pela minha voz firme e concisa, literalmente berrada aos seus ouvidos, pois me encontrava no banco imediatamente atrás dos dois, para que se concentrassem apenas no comando. Deveriam substituir a força propulsora dos motores, agora inexistente, pela da gravidade, evitando desse modo que o avião " estolasse ". Era urgente a busca por um local para pousar! Lá do alto, este lugar nos pareceu óbvio: a estrada estadual ( BA - 046 ), que liga a BR-116, nas proximidades de Milagres, à cidade de Amargosa. Tratava-se de uma rodovia com pouquíssimo movimento, tanto que não se avistava, até aonde a vista alcançava, nenhum veículo circulando.
O pouso de " barriga " no pasto de uma fazenda existente à margem da rodovia, foi uma opção prontamente descartada: havia o risco de atropelar diversos animais ou, ainda pior, a  possibilidade da existência de um tronco de árvore derrubada, que seria fatal. Sem trem de pouso, o avião seguiria uma rota retilínea, sem qualquer possibilidade de manobra, sendo inevitável o choque e talvez, a explosão do aparelho...

Continua na próxima postagem.....

Um ótimo final de semana a todos.
Abraço,

Clóvis de Guarajuba
ONG Ande & Limpe