sexta-feira, 28 de agosto de 2020

6 - TRES ENFERMIDADES GRAVES, AO MESMO TEMPO!!! - 1a parte -




1954, meu primeiro ano como aluno interno do Colégio Salesiano Nossa Senhora do Carmo, tradicional e antigo colégio de Belém, dirigido pelos padres Salesianos de D. Bosco, cujo internato era ambicionado por todos os jovens do Estado em idade de fazer o exame de admissão ao curso ginasial. Poucos, porém, conseguiam realizar tal sonho, mercê dos altos custos desse internato. Por decisão da minha mãe, tive que fazer a quinta série do curso primário, pois ela achava que não tinha condições de me submeter com sucesso ao exame de admissão ao curso ginasial. Este exame consistia em uma espécie de 
" vestibular ", em que, para ser aprovado, o aluno tinha que ter um preparo bem razoável ao final do curso primário, o que, segundo ela, me faltava, por motivo  das atribulações causadas pela  " paralisia infantil " que me acometera.
Por estarmos radicados em Oriximiná, embora a maior parte da família de minha mãe morasse e ainda hoje more em Belém, o internato foi uma opção dos meus pais. Já, anteriormente, meu irmão mais velho, José Figueiredo de Souza - hoje membro da Academia Paraense de Letras, ocupante da cadeira no. 14 -  houvera terminado o curso ginasial no mesmo internato e, apenas por uma questão de competitividade, preferiu terminar o curso científico no Colégio Estadual Paes de Carvalho que, em diferentes épocas, foi frequentado pelas maiores cabeças coroadas dos discentes paraenses, tais como Jarbas Passarinho, Alacid Nunes, Jáder Barbalho, Simão Jatene, todos ex-governadores do Estado; meu querido e saudoso primo-irmão, Carlos Alberto de Aragão Vinagre, Deputado Federal  Constituinte e Professor, Inocêncio Coelho, ex-Procurador Geral da República, Enéas Martins, Ministro das Relações Exteriores, e muitos outros que se tornaram preeminentes no cenário nacional. É que, ao contrario daquilo que hoje ocorre, este colégio público era considerado a " nata "  do ensino no Pará. Meu irmão, depois de cursar com sucesso os dois primeiros anos do curso científico no Paes de Carvalho, voltou ao Carmo, dessa vez em regime de externato, fazendo o terceiro e último ano do científico e sendo, inclusive, o orador da turma. O " internato do Carmo " era famoso pelo seu rigor quanto às saídas dos alunos. Apenas nas férias de julho e de fim de ano, era possível para os alunos irem para casa. Durante o ano letivo, somente uma " saída " era possível - assim mesmo, só para aqueles cujos pais ou responsáveis fossem buscar o aluno: era por ocasião do fim de semana em que se comemora a maior festa dos paraenses: o CÍRIO DE NOSSA SENHORA DE NAZARÉ. Somente as férias de fim de ano eram gozadas por mim em Oriximiná - grande parte delas na fazenda do Cachoeiri.  As férias de julho, mais curtas, eram gozadas, prazerosamente, em companhia da minha tia queridíssima, Odaléa ( irmã da minha  mãe ), geralmente na ilha do Mosqueiro, para onde a família se deslocava, assim como grande parte da sociedade paraense, nessa época. Ah! quantas recordações...


Ainda não havia a ponte e as viagens eram feitas no majestoso  " Presidente Vargas ", 
luxuoso navio comprado à Holanda, cujo bar e cabines de alto luxo, já àquela época,
eram equipados com ar refrigerado, poltronas confortáveis e outros itens chiquérrimos, que o tornavam o mais charmoso navio da época nestas paragens. Pena que a viagem só durasse míseros 50 minutos!... 
Embora com uma quantidade enorme de diversões na cidade,
uma das preferidas dos veranistas de Mosqueiro, consistia em ir para o trapiche, ao final da tarde, quando chegava o navio e, fazendo duas alas, ovacionar as pessoas que chegavam, numa espécie de " boas vindas ", anotando também as mais elegantes e as mais extravagantes, para, nas rodas das animadas conversas no Praia Bar, ( point chic da época), tecerem fofocas ora elogiosos ora críticas...

Continua na próxima postagem........

Um ótimo final de semana para todos.
Abraço,



Clóvis de Guarajuba
ONG Ande & Limpe 

sexta-feira, 21 de agosto de 2020

5 - A PRIMEIRA GRANDE ENFERMIDADE.



De acordo com informações da minha mãe e de duas vizinhas com as quais me reencontrei, inúmeras vezes, depois de adulto - sendo que ambas já nos deixaram, D. Zenaide e D. Iza, esta última me confessando que adorava me carregar no colo, não fui o que se poderia chamar de " uma criança doente ". No entanto - e a partir de então lembro com mais nitidez dos fatos - por volta de 9 ou 10 anos de idade, fui acometido de algo que me deixou privado dos movimentos dos membros inferiores. Lembro-me nitidamente que, para fazer as provas de fim de ano no Grupo Escolar Padre José Nicolino, onde então estudava, tinha que ser carregado nos ombros pelo meu irmão, o querido e saudoso Dezizé ou por um índio muito estimado  na cidade, chamado Cachinaua ( ou Cachinamá, no entender da maioria dos habitantes do lugar ). Segundo afirmação convicta da minha mãe, fui vítima da poliomielite que, naquele tempo, ainda não poderia ser evitada, pois a vacina contra esta doença maligna somente seria descoberta muitos anos depois, em 1961, pelo eminente cientista norte americano Albert Sabin 
( 26.08.1906 - 03.03.1993 ). 
Minha mãe contou-me e aos meus irmãos, que fiquei curado da terrível enfermidade, graças a uma promessa que ela fez a Santo Antonio, padroeiro da cidade de Oriximiná, promessa esta que consistiria em, vestido de frade franciscano, fazer-me acompanhar a procissão que anualmente o homenageia, caso o Santo " fizesse "  com que eu voltasse a andar...
Lembro-me, perfeitamente, do constrangimento que me acometeu durante esse " pagamento de promessa ", como bem demonstra minha expressão facial verificada na fotografia que ilustra a presente narrativa, mandada executar pelo único fotógrafo, cujo nome era Valeriano, que visitava a cidade apenas anualmente, na época dos festejos em louvor a Santo Antonio.
Milagre ou não, o certo é que voltei a andar e não fiquei com sequela alguma!

Um ótimo final de semana a todos os amigos e visitantes.
Obrigado pelas visitas.


Clóvis de Guarajuba
ONG Ande&Limpe

sexta-feira, 14 de agosto de 2020

4 - " A COBRA CORAL " E " ESCAVANDO UM BURACO NO QUINTAL... "


                                                                Imagem da Internet





















De acordo com revelações feitas por minha mãe, sofri alguns pequenos acidentes nos primeiros anos de vida, sendo que dois deles, foram potencialmente muito perigosos e poderiam me deixar com, no mínimo, sequelas seríssimas. O primeiro aconteceu quando,
ainda criança de colo, me encontrava tranquilamente sendo amamentado pela mamãe que concomitantemente conversava despreocupada com sua comadre e vizinha, D. Zenaide ( minha querida amiga, já  falecida ).  Enquanto esta cena lúdica podia ser observada, uma pequena cobra coral verdadeira, que houvera se abrigado talvez em uma fralda estendida no varal, começava a se movimentar, tentando certamente livrar-se da incômoda proximidade com seres humanos. Inexplicavelmente a mamãe, sentindo  algo estranho, levantou-se e, ao entregar-me à D.Zenaide, para verificar do que se tratava, provocou a queda da serpente, cujo veneno certamente me mataria se inoculado! A mamãe, ao levantar-se apressada da cadeira de balanço em que estava, deixou-a naquele vai e vem característico e a cobra, ao tentar fugir, resolveu passar por debaixo da cadeira, sendo prontamente esmagada pelo móvel, no qual a mamãe rapidamente voltara a sentar!



Noutra ocasião, já com uns 5 anos de idade ( e, a partir dai, já me
recordo de tudo ), inventei uma
brincadeira que consistia em escavar o chão, na tentativa de fincar um
pedaço de madeira que seria um dos lados de uma futura trave
de futebol. Sendo eu o mais velho, " determinei " ao meu irmão Cléber que pegasse uma enxadeta -  ou enxadeco, naquela região - existente ali no quintal e começasse a escavar. Na minha opinião esta tarefa seria  mais cansativa e eu imaginei que, sendo o mais velho,
tinha o " direito " de escolher que trabalho fazer...
Enquanto ele escavasse, eu iria retirando a terra do buraco, munido de uma latinha de leite condensado vazia, encontrada  ali mesmo no no quintal. E  lá vamos nós: ele cavava e eu tirava a terra; ele cavava e eu tirava a terra...até que, numa dessas " tiradas  de terra ", ele, achando que já era sua vez de cavar, golpeou a minha cabeça com a lâmina da pequena enxada. Por verdadeiro milagre meu cérebro não foi afetado mas, até hoje, trago comigo a marca do incidente, em forma de  uma profunda cicatriz, tanto no couro cabeludo quanto no osso parietal...


Um ótimo final de semana a todos, obrigado pela visita.
Abraço,



Clóvis de Guarajuba
ONG Ande & Limpe

sexta-feira, 7 de agosto de 2020

3 - A QUEDA DA PONTE - final -




Aqui, cabe um outro esclarecimento: as águas do Rio Amazonas são condutoras de uma grande quantidade de matéria em suspensão 
- principalmente barro - o que torna totalmente nula a visibilidade para quem nelas mergulha. Não obstante essas condições mais improváveis, meu pai, aflito e apressado, sem saber sequer para que lado da ponte eu havia caído, como já afirmei, se jogou, guiado apenas pelo instinto e pelo amor paterno e me encontrou, já no primeiro mergulho! É que a correnteza do rio, a princípio potencialmente mortal, foi quem me salvou, mantendo-me preso sob sua pressão, de encontro aos caules das canaranas - uma espécie de vegetação que floresce abundantemente às margens dos rios amazônicos -. Assim, com apenas 8 meses de vida, fui resgatado por meu pai das águas barrentas e incrivelmente velozes do rio Cachoeiri, desfalecido e aparentemente morto... No desespero que se seguiu ao meu resgate, fui sacudido violenta e sucessivamente por meu pai e minha mãe, até que, após alguns segundos, voltei a respirar, para alívio e felicidade dos dois e principalmente para minha felicidade. Nunca mais descuidaram de mim e a " dona Dira foi advertida para não me perder de vista jamais...
Graças a esse resgate , pude prosseguir entre os vivos e bem mais tarde, dar à vida minha própria filha que, por sua vez, me deu netos  maravilhosos. Na minha opinião, foi este o acidente mais terrível e potencialmente letal que sofri, embora entre os posteriores figure até um desastre aéreo!

Um ótimo final de semana, grande abraço a todos os amigos e visitantes.




Clóvis de Guarajuba
OMG Ande & Limpego.