sexta-feira, 29 de março de 2024

A DOENÇA QUE ALTEROU O CURSO DA HISTÓRIA. II


                               Recolhendo os mortos.



 Graças ao extraordinário aumento no preço da pele das marmotas, milhares de chineses e mongóis se deslocaram para a região de caça, na Manchuria do Norte, pensando ganhar muito dinheiro de maneira rápida e não muito trabalhosa. O trabalho era ainda mais fácil quando encontravam um animal doente e por isso mesmo, sem forças para fugir. Consumiam, por falta de conhecimento, até aquela " gordura de sob o baço dos animais ", que, embora deliciosa, era justamente onde a doença atacava as vitimas, contaminando a maioria dos seus consumidores. Sem nenhuma precaução no sentido de evitar a transmissão da bactéria, a peste migrou, junto com os caçadores, das áreas de caça para a cidade de Manchuli, ponto final da estrada
de ferro oriental da china. Pronto, estava criado o ambiente ideal para a propagação da doença pelos 2.700 km da linha férrea, matando dezena de milhares de pessoas. Tudo se agravou quando as pessoas contaminadas eram tratadas como pacientes portadores de doenças comuns e, por isso mesmo, sem nenhuma precaução quanto ao possível contágio. Assim, uma bactéria que mal excede um milésimo de milímetro, causou uma enorme baixa no número de habitantes das regiões  atingidas.  
A peste não é, habitualmente,  uma doença humana, mas de roedores e é transmitida pelas moscas, de um para outro animal.
 Há duas  espécies principais da doença...
mas isto é assunto para a próxima postagem...


continua...

Um ótimo final de semana a todos.

Abraço e obrigado pela visita.

Clóvis de Guarajuba
ONG Ande & Limpe

sexta-feira, 22 de março de 2024

A DOENÇA QUE ALTEROU O CURSO DA HISTÓRIA. - I



                                                                Doentes terminais



Como quase sempre acontece, foi a ganância dos homens que ocasionou a última grande epidemia de peste bubônica ocorrida no leste da Sibéria no inicio da década de 1910.
A doença matou, em apenas sete meses, mais de 60.000 pessoas!
Tudo começou com o aumento do preço - quase 400% - da pele das marmotas.
Estes animais roedores, cuja pele substituía com vantagens a pele de um outro animal, chamado marta zibelina, sempre foram caçados pelos Mongóis que conheciam a fundo  seus hábitos e a estranha doença que por vezes os atacava. Nenhum mongol caçaria um animal doente e, embora a carne e a gordura do animal, fossem de um sabor muito  agradável, havia a proibição local de se consumir um tecido gorduroso de sob o baço - na verdade uma glândula linfática auxiliar  que, segundo a lenda, continha a alma de um caçador morto. Os mongóis sabiam que esta glândula era atacada diretamente  quando o animal adoecia, infetando quem a comesse e levando os circunstantes a  abandonar o doente à sua própria sorte, para não serem contaminados; doente este que, quase invariavelmente, viria a óbito, em circunstâncias  terrivelmente doloridas e cruéis.


continua...

Abraço a todos e um ótimo final de semana.

Clóvis de Guarajuba
ONG Ande & Limpe

sexta-feira, 15 de março de 2024

- MIOLO DE PÃO - final -





" Depois de navegar quanto bem quis, tendo os pés como *palhetas, Miolo de Pão procurou o barraco do bêbado, mas não o localizou entre tantos barracos da invasão do Riacho Doce.
Miolo de Pão se acordou de madrugadinha pelo barulho que sacudia a cidade. Era como se a cidade toda estivesse caminhando de pés descalços. Vozes se multiplicavam a todo instante. Brinquedos de miriti passavam suspensos em enormes cruzetas. Pessoas vestidas de camisolões brancos passavam apressadas para o centro urbano. O que estava acontecendo?
O pato po barraco do bêbado, mas não o localizou entre tantos barracos da invasão do Riacho Doce.
O at procurou explicações nas águas do Tucunduba. Quando lá chegou, já estavam cheias de pessoas, umas tomando banho com baldes, outras nadando no meio das águas.
Miolo de Pão compreendeu que já estava bastante atrasado em sua programação.
Antes tentou entrar no primeiro barraco que encontrou. Colocou o bico dentro da casa procurando sentir os cheiros que vinham da cozinha. Como os moradores eram tão pobres que não tinham dinheiro para comprar pão, de lá não chegava nenhum cheiro de miolo.
E o pato foi gingando à procura de outras portas.
Na terceira, de lá pra cá, de cuja cozinha não vinha cheiro de nenhuma espécie, alguém chamou o animal, carinhosamente, talvez pensando no almoço do dia. Miolo de Pão tratou de andar ligeiro e levantou voo à procura das águas do Tucunduba.
Enquanto se ouvia, ao longe, o espocar dos fogos de artifício, saiu um pequeno batalhão de menores, dos duzentos mil que habitam Belém em absoluta miséria, à procura de completar a "meia comida e meia escola".
Rita avistou da porta da sua casa o João Felício, que ia passando de pés descalços para acompanhar o Círio.
- Bom dia, seu João!
- Bom dia, Dona Rita.
- Não vai acompanhar o Círio? - João quis saber.
- Vou. Vamos eu e o Dagoberto.
- O senhor ainda trabalha no barco "Rodrigues Alves"? - perguntou Rita.
- Ainda, dona Rita.
- Ele continua fazendo viagem pra Cametá?
- Continua.
- Aconteceu alguma coisa? - perguntou João Felício.
- O Dagoberto, ontem à noite, trouxe um pato grande...mas eu já tinha comprado um para o Círio. Vai acabar se perdendo no Tucunduba. Fiquei pensando: será que o senhor não levava pra vender no barco?
- Levo, sim. Em Cametá, tem um bom criador de patos, talvez ele compre pra revender.
Pergunta Rita:
- Como é o nome dele?
- Edgar. Vou vender pra ele.
- Eu lhe dou uma comissãozinha. E se virando para dentro de casa:
- Vai pegar o animal, Dagoberto!
Dagoberto desceu da casa, com as mãos cheias de miolo de pão, para atrair o pato ".


palhetas - tem o significado de " hélices ", sentido muito comum no linguajar da região.

Um ótimo final de semana a todos. Obrigado pelas visita.
Abraço,


Clóvis de Guarajuba
ONG And&Limpe

sexta-feira, 8 de março de 2024

- MIOLO DE PÃO - IX -



Dagoberto tem dúvidas: não 
sabe se acompanha a Transladação ou se vai para o Riacho Doce.
Chama a atendente.
Um homem passa, carregado de 
bolas gigantescas. Um menino puxa o pai pela mão, para comprar a bola de tantas cores. Os brinquedos estão espalhados pelo chão, protegidos por jornais velhos. 
Uma menina  caminha em sentido 
contrário, brincando com um 
reco-reco. O barulho desperta o 
pato. O homem levanta-se.. Olha para o pato dentro do paneiro.. 
Fala alto:
 -Véspera do Círio. Que Nossa Senhora de Nazaré nos 
proteja! E, curvando-se para pegar paneiro: 
-Vamos embora, imbecil!
Depois que Dagoberto deu algumas marretadas na porta, Rita foi atender:
- Só agora? - perguntou.
E Dagoberto:
- Fui atrás de pato!
E tratou de abrir a boca do paneiro. Ficou surpreso porque a boca já estava praticamente aberta.
- Olha que beleza! - exclamou.
Rita não concordou muito:
- Pra quê?
- Pro Círio.
- Já comprei o pato pro Círio. Você acha que eu ia esperar até agora?
Dagoberto sentiu cheiro de maniçoba.
- Então vamos comer na próxima semana - sugeriu.
- Pato só é bom no dia do Círio - disse Rita.
- Então coloca no terreiro!
- Que terreiro, homem? Só se for no igarapé do Tucunduba!
O homem caiu em sí e olhou o universitário igarapé. Sem nada dizer, 
concordou com a mulher.
- É um pato grande e bonito!
Lembrou a pessimista:
- Vai quebrar toda a louça se ficar em casa...
Farto de tanto recolhimento, o patarrão deu duas descarregadas no chão da casa de Rita, e se dirigiu para o tanque que estava cheio de água.
- Não é o que digo?
Dagoberto coçou a cabeça


Rita se aproximou, pegou 
o pato pelas asas e o sacudiu 
no Tucunduba. O voo curto 
da ave terminou nas águas que banham cinco bairros, que estavam mansas e apaziguadas pelas horas que eram.
- Só resta dormir! - falou 
Dagoberto ao armar a rede ".






Continua na próxima postagem...

Bom final de semana a todos.
Abraço,


Clóvis de Guarajuba
ONG Ande & Limpe

sexta-feira, 1 de março de 2024

- MIOLO DE PÃO - VIII -


Rio Tucunduba - Belém

" Indiferente, inchado de tanta poluição, o Tucunduba nada respondia, no seu longo deslizar pelos cinco bairros da cidade de Belém, desde Jabatiteua, MarcoCanudos, Terra Firme e Guamá. Apesar de sua doença poder ser identificada pelo material que é despejado pelas indústrias situadas às margens, além do lixo 
doméstico e fezes humanas, o Tucunduba é um pequeno igarapé bonito. 
Na travessia que faz pelos bairros pobres de Belém, carrega consigo questões de toda sorte, para treze-las finalmente ao campus universitário.
Quanto mais fechada ficava a cara da Rita, a mulher do bêbado, falando contra o Tucunduba, Dagoberto dizia a brincar:
- Não existe lugar melhor, mulher! Não existe igarapé mais sábio no mundo. Ele atravessa o campus da universidade e, se um dia ele transbordar, leva o Riacho Doce e tudo o mais!
- A professora Vera disse que vai transbordar, Dagoberto. Só uma dragagem salva o igarapé. Quem vai se preocupar com seus moradores?
Sem se incomodar com as brigas e com o lazer das crianças pobres, o Tucunduba vai rolando ao longo de sua extensão e de uma população de mais de duzentas mil pessoas.


Alegre ficava pelo fluxo de água 
trazido pelo rio Guamá e alguma 
vegetação mais resistente. Dádiva 
dos deuses a sustentar o resto de 
oxigênio que ainda existe.
Por isso é que o Tucunduba
ansiosamente, como que abre sua 
boca pra receber o que o rio Guamá manda em solidariedade. Infeliz do peixe menor que, ao fugir do 
maior, entra através do Guamá
Não resiste. Foi assim que 
aconteceu com aquele imenso peixe de pele lisa que entrou no 
Tucunduba, em dia de maré alta. 
A principio assombrou os meninos 
com seus mergulhos e artimanhas. 
Os que tomavam banho no igarapé 
ficaram apreensivos. Pensavam que era um monstro que estava aparecendo no Tucundubanas noites de lua cheia. Porque era nas noites de lua cheia que o luar tirava reflexos de sua barriga branca. Não foi longe o peixe. Morreu no campus 
universitário, à míngua  de tratamento".

Obs: O peixe referido no texto seria um "Filhote", abundante nos rios da Amazôniaque tem a pele lisa, a barriga branca e pode pesar até 200 kg.

Continua na próxima postagem...

Bom final de semana a todos.
Abraço,

Clóvis de Guarajuba
ONG Ande & Limpe