sexta-feira, 2 de junho de 2023

A história da Professora AFONSINA - IV -


Imagem Internet

Os costumes muito rígidos da época, não permitiam nenhum encontro dos jovens - agora noivos - a sós. 
 " namorar " e até " noivar ", tinham um significado que mantinha uma distância cósmica  com aquilo  que hoje se pensa e acontece. No namoro, o respeito à integridade física e moral da namorada era sempre observado, mesmo porque a moça, recatada e  " de família ", não permitia nem a mais inocente intimidade. Pegar na mão da jovem era um acontecimento que levava o namorado a dar pulos de alegria, na primeira oportunidade em que se encontrasse sozinho; e a súbita, incontida e urgente vontade de " fazer xixi " o obrigava a procurar a
 " sentina " ou o mato mais próximo para se aliviar...!  Já o noivado, era constituído pela permissão que o pai da jovem concedia ao noivo para frequentar sua casa, sentar-se, geralmente num sofá ocupando um extremo, enquanto a noiva sentava no outro lado e, ainda assim, com a presença de algum adulto da família da pretendida 
- geralmente a mãe a fazer crochê -.
Também por conta desses costumes, os casamentos aconteciam num prazo relativamente curto, considerando-se o dia em que a jovem, com a anuência do pai, aceitara o " pedido de casamento ". É que o noivo, geralmente apaixonado, como é natural, tinha urgência em "consumar o casamento".
E vieram as núpcias de LAURINDA e FRANCISCO, festejadas com toda a pompa que o pequeno lugarejo podia oferecer. Mataram-se boi e porco. Há quem afirme que um peixe-boi foi servido, transformado que fora no mês anterior, em uma deliciosa " mixira " *. ( E olha a água na boca do autor... ). Uma enorme tartaruga ( olha a água teimosa novamente ), trazida pelo noivo lá do lago do Erepecu - mais precisamente do " tabuleiro "** - completavam o lauto almoço oferecido no dia seguinte pelo pai da noiva, a praticamente todos os habitantes da pequena cidade. É que todos se conheciam e, sem necessidade de convites, os que chegassem eram sempre bem-vindos. As comemorações estenderam-se por quase uma semana ao final da qual os noivos, finalmente, puderam se concentrar um no outro.
E tudo transcorria tal qual os dois haviam imaginado. A primeira gravidez da jovem esposa aconteceu lá pelo início do ano de 1934. Motivo de muita alegria para todos, especialmente para o casal; o primeiro filho ( ou seria filha?...), prometia inundar aquele lar com a luz própria de todo bebê, aumentando assim a felicidade que já era incomensurável. A vida, porém, como que para trazer o casal de volta à realidade mundana - já que viviam em um paraíso de felicidade - e ajudada pela falta de recurso médicos e farmacêuticos da época, acabou por ceifar a vida da recém nascida ( sim, era uma menina!!! ), tornando-a  vítima, como era muito comum naqueles tempos, da chamada " doença dos sete dias ".
 A superação de tão angustiante golpe exigiu muito amor e dedicação do casal, assim como o carinho de todo o restante da família. E, na medida do possível, a alegria voltou timidamente àquele lar, coroando a recuperação emocional dos dois, nas festas de fim de ano, quando já se desconfiava que a jovem esposa estava novamente grávida!...


* MIXIRA- Método usado para conservação de carnes, que consiste em retirar a gordura do animal, fritando seu toucinho, retirando o torresmo remanescente e fritando a carne a ser conservada na banha resultante, findo o que se coloca toda a carne já frita, juntamente com a banha, dentro de um recipiente de tamanho proporcional à quantidade a ser conservada e, depois de esperar tudo esfriar, tampa-se o recipiente para só abri-lo nas ocasiões em que se necessitar usar as porções.

** TABULEIRO - Banco de areia localizado ao largo do Lago do Erepecu, utilizado pelas tartarugas em sua desova anual. Conta-se que durante a desova, é impossível se visualizar a areia, tal a quantidade de tartarugas desovando ao mesmo tempo, em noites sucessivas.


                                                                     
Continua na próxima sexta-feira...

Obrigado pela visita e um bom fim de semana a todos.


Clovis de Guarajuba
ONG Ande&limpe

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