sexta-feira, 9 de junho de 2023

A história da Professora AFONSINA - V -



        Meu jovem amigo ARAUAQUE e eu chegando ao antigo
        barracão, construído pelo papai.

         Meu sobrinho CLEY e eu, no interior do barracão.
                     (note-se que já não existe assoalho)

A confirmação da gravidez da LAURINDA - a segunda - trouxe novo ânimo a todos os familiares. Como é natural, aumentaram-se os cuidados com a grávida, cobrando-se, até dela própria, a observância de regras mais rígidas para o seu dia a dia. Alimentação rica e variada tomada nas horas certas, e nada de muito esforço ou longas caminhadas. Claro que tais atitudes da família não tinham razão de ser, pois o que ocorreu com a criança que morrera, nada tinha a ver com o comportamento, alimentação ou qualquer outra atitude da parturiente, como é fácil deduzir.  A criança morrera por conta de uma infecção originada no cordão umbilical, evento comum àquela época. Eu próprio teria morrido se tivesse nascido uns  10 ou 20 anos antes do meu próprio nascimento, porque a tecnologia que me mantem vivo, desde o dia 17.09.1980 até hoje ( o marca - passo ), não existia e, fatalmente, já estaria morto, vítima de uma parada cardíaca durante o sono.
 A criança morrera, dizia, porque Alexander  Fleming, escocês 
( 06.11.1881 a 11.03.1955 ), apesar de ter casualmente descoberto a penicilina - primeiro antibiótico - em 1928, sua produção industrial como fármaco, só começou em 1938 nos EE.UU., quando eram iminentes os sinais de que a guerra do Hitler se aproximava e os feridos precisariam desse medicamento. 
Assim, só 4 anos depois do infausto acontecimento na família do FRANCISCO, começou a produção. 
E a gravidez transcorreria sem nenhuma intercorrência, a  não ser pelas sempre presentes náuseas, comuns nos meses iniciais... Naquele ano, como que para comemorar antecipadamente a chegada de outro filho ( ou seria filha ?...), a safra da castanha do Pará foi das mais generosas. Com isto o trabalho de todos foi proporcionalmente maior, exigindo algumas viagens extras para transportar, no " batelão "* até a cidade, as castanhas que por sua enorme quantidade, abarrotavam o barracão construído às margens do lago. As atribulações foram tantas, que FRANCISCO decidiu que construiria, naquele ano, um outro barracão, desta vez dotado de uma estrutura definitiva e com capacidade de armazenamento bem maior.  A construção foi de tal maneira caprichada, que até hoje permaneceria utilizável, não fora o vandalismo perpetrado por caçadores e pescadores que, não tendo a mínima consciência, usam a sua madeira fácil e à mão, para fazer fogueira, ao lá acamparem para passar a noite! Não imaginam o trabalho, o sacrifício e o dinheiro que foram feitos e gastos para trazer da cidade os materiais corriqueiros e da capital, Belém, as telhas, que até hoje cobrem o barracão. Eu próprio, já estivera no Fartura em 1997, autorizado que fui pelo então preposto graduado do IBAMA, o conterrâneo e competente Administrador, Alberto Guerreiro de Carvalho, simplesmente Beto, para os íntimos. Tal autorização foi dada fora do seu gabinete, e foi escrita do próprio punho ( conforme foto ilustrativa abaixo ), uma vez que ele estava embarcando às pressas para uma viagem de trabalho  e nosso encontro se deu já no porto. Resolvi voltar à sede do castanhal, no ano de 2002, desta vez acompanhado de meu sobrinho Cley e de meu jovem amigo Arauaque
( vide fotos ilustrativas acima ) para documentar a situação em que se encontravam as instalações tão caprichosamente construídas pelo meu saudoso pai.
E com a aproximação da hora do parto da LAURINDA, foram providenciados todos os requisitos exigidos para uma feliz " délivrance "...
 
                                        A autorização
                                               

* BATELÃO - Grande embarcação desprovida de motor, que serve para transportar  qualquer tipo de carga e que é rebocada ou empurrada por barco motorizado.
 

                                                              
Continua a próxima sexta-feira.

Bom fim de semana a todos.


Clovis de Guarajuba
ONG Ande&Limpe

Um comentário:

Anônimo disse...

Vivi história semelhante pois meus antepassados possuíam catanhais e transportavam, também em batelão, as amêndoas de Castanha do Pará até a cidade onde eram negociadas.A narrativa do meu marido me ajudou a vivenciar essa etapa da minha vida. Esperando com ansiedade os próximos capítulos. Argentina Teixeira Mokarzel Bitar Aragão de Souza