sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024

- MIOLO DE PÃO - VI -





" O homem falava consigo mesmo:
- Boca seca. Faz tempo que não bebo!
A brisa vespertina da baía de Guajará já tinha invadido a cidade e o clima estava ameno, por isso o homem foi caminhando. Ao aproximar-se da união da Braz de Aguiar com a Generalíssimo, viu as luzes do Largo de Nazaré, porque a noite tinha chegado e a resistência da tarde era tênue por dois ou três borrões de vermelho no horizonte.
Sentou-se à mesa do Largo, situado à frente do colégio Barão do Rio Branco e pediu:
- Cerveja!
À primeira garrafa seguiram-se tantas outras que, depois de algum  tempo, a própria mesa já era uma festa. Ficou alegre, dizia gracejos às garçonetes.
Ouviu tantos fogos de artifício, e viu tantas pessoas que iam em procissão lá na outra extremidade, que perguntou a um casal que passava:
- O Círio agora é à noite?
E o homem que passava fechou a cara:
- É a Transladação, herege!
Chamou a garçonete:
- Mais uma cerveja!
O pato é que não achava jeito para dormir com tantos fogos e tanto barulho.
O instinto lhe dizia que era hora de dormir, porque assim acontecia no quintal da Neuzita, em Cametá: quando a noite vinha chegando as criações do Edgar se acomodavam para dormir. Mas, ali, não era possível pela confusão reinante.
Foi por isso que colocou a cabeça fora do paneiro, para melhor apreciar o que estava acontecendo. Foi exatamente quando passava um cachorro vira-lata, que teve a infelicidade de cheirar o paneiro para examinar seu conteúdo e recebeu, no mesmo momento, uma bicada tão violenta que saiu ganindo e saltando de uma perna só.
O pato forçou um pouco mais e saiu do paneiro. Sacudiu as asas e ficou a olhar os acontecimentos. Três barracas adiante da que estava, uma mulher gorda preparava a massa para fazer pastéis em grande quantidade. O suor se avolumava na testa, e ela o retirava com o dedo em forma de gancho ".

Continua na próxima postagem...

Um ótimo final de semana a todos.
Grande abraço,



Clóvis de Guarajuba
ONG Ande & Limpe

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