sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024

- MIOLO DE PÃO - IV -



" Quase em frente ao Colégio do
Carmo, o peso do paneiro dizia
que era um patarrão. E começou
a pensar: " Não preciso de tanta
carne de pato em casa, o certo
seria a metade do animal, já que
é muito grande. Poderia vendê-lo
e, com o dinheiro, compraria no
supermercado o tanto de pato
que preciso ". E foi andando com
seus pensamentos. A cidade
estava em sua festa maior,
sentia-se nas feições das pessoas.
Os táxis chegavam e saiam lotados.
Teve um último pensamento: " Depois, não fica bem, eu fardado
carregando um pato pelas ruas da cidade "... Um homem bastante
bebido tentava retirar uma cédula de um pacote de notas.
- Quer vender o pato?
- Sim - disse o guarda.
Ajustaram o preço, e o homem da lei saiu andando com a consciência serena e o dinheiro no bolso.
O bêbado pegou o paneiro do pato e falou alto:
- A mulher é que vai gostar! Vamos lá, seu imbecil.
E saiu andando entre os romeiros com alguma dificuldade.
Quando pisou na calçada da igreja da Sé, o sol já ia muito alto e o calor respeitável. Uma suave música fez com que olhasse para dentro da igreja. De onde vinha som tão bonito? Não soube identificar. Olhou um pouco mais para dentro, e ficou parado por alguns instantes.
Uma paz suave dominou o bêbado. Ele não sabia que eram os dedos do padre Cláudio Barradas, fazendo o instrumento soltar os sons musicais de Mozart, acompanhado da voz do pastor.. E Mozart era tão celestial e suave, que o bebaça foi se encostando na parede da centenária igreja, lembrando-se de sua mãe nos Círios passados, quando acompanhava a procissão levado pela mão materna.. Ou a música ou o calor daquelas horas, ou as lembranças da véspera do Círio de Nossa Senhora de Nazaré, foram amolecendo o
homem, que colocou o pato ao lado e foi se arriando na calçada.
O pato sentiu que alguma coisa estava acontecendo, não só pela suave e bela música, como porque o mundo deixou de balançar quando o paneiro foi colocado no chão morno. Por isso tratou de alargar a passagem das talas da boca do paneiro. E tantas fez, e empurrou tanto, que conseguiu primeiro passar a cabeça, e, só depois, conseguiu passar o corpo, sacudindo-se todo, ao sonhar com água corrente. Ficou do lado do tonto e do paneiro, amedrontado com aquele
mundo desconhecido ao ouvir os passos das pessoas e vendo o velho casario da igreja de Santo Alexandre, bem como a entrada do 
" Forte do Castelo ".


Continua na próxima postagem...

Um grande abraço a todos e obrigado pela visita. Bom final de semana.



Clóvis de Guarajuba
ONG Ande & Limpe

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