sexta-feira, 8 de dezembro de 2023

1 - ALGUNS FENÔMENOS AMAZÔNICOS.




Há algumas explicações que devem ser dadas, principalmente àqueles que não têm a felicidade de conhecer a região amazônica:
Quando nasci, em 18.10.1941, meus pais, então recém casados ( sou o primogênito do 2o casamento do meu pai ), possuíam, além do rendoso negócio com castanha do Pará, uma fazenda chamada Perseverança, à margem direita do rio Cachoeiri. Este riozinho é uma das duas únicas ligações entre a calha principal do Rio Amazonas e o seu afluente, pela margem esquerda, o Rio Trombetas.
Agora convoco-os a fazer um exercício de raciocínio: imaginem o que significa, em volume de água, a invasão do maior rio do mundo, a um riozinho que, àquela época, tinha pouco mais de 100 metros de largura! A correnteza é brutal! As margens e o leito do Cachoeiri são
arrancados pelas águas violentas do Amazonas, tornando-o, a cada dia, mais profundo e mais largo. A previsão é de que, dentro de poucos anos, o Cachoeiri estará ligado a um lago que existe na parte posterior da fazenda. É preciso dizer, a esta altura, que o Rio Amazonas é geologicamente novo pois, não tendo ainda definido seus limites marginais, continua a escavar seu próprio leito e a erodir  suas  margens, transformando-os em sedimentos que são carregados
para formar novas ilhas e bancos de areia, alhures. Por conta deste fenômeno é que, independente das qualificações ou dos cursos, títulos e/ou experiência que detenham os comandantes de navios vindos de todo o mundo, ao chegarem na foz do Amazonas, nas
proximidades da cidade de SalinópolisSalinas para os íntimos ), o comando desses " monstros ", capazes de carregar  até 80 000 toneladas de carga, é assumido por um profissional denominado 
( erroneamente, a meu ver ) de " Prático ". Esta providência é tomada
justamente porque o leito do rio é diuturnamente modificado: ora desaparecem ilhas e bancos de areia já consolidados; ora surgem, onde antes nada havia, novas ilhas, cuja detecção só pode ser percebida por quem conhece as " manhas " do rio, evitando, mercê desse conhecimento, o encalhe, muitas vezes irremediável, das embarcações. Conheço razoavelmente essa função de comando, porque tive dois tios - tio Tito e tio Paulo Aragão - e dois primos - Alberto e Leonel Aragão - que exerciam as funções de comandantes e práticos da
Marinha Mercante na Região Amazônica, conduzindo seus navios, não raras vezes, até Iquitos, no Peru. Tive, também, a oportunidade de viajar em um graneleiro carregando 60 mil toneladas de minério de bauxita oriundo das minas do Trombetas, com destino à  Barcarena, e posso garantir que há sim a necessidade dos "Práticos" no comando desses transatlânticos, embora sejam equipados com toda uma parafernália eletrônica moderna.


Excelente final de semana a todos e um abraço do amigo,

Clóvis de Guarajuba
ONG Ande & Limpe

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